domingo, 25 de abril de 2010

Limite entre a Vida e a Morte

A DECISÃO MAIS DIFÍCIL.

O novo Código de Ética Médica traz em seu artigo 41 um avanço e ao mesmo tempo uma questão bioética das mais sérias enfrentadas pela classe médica no exercício de seu labor: o limite da vida humana.

Diz o artigo 41: “Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal”. O artigo veda ao médico abreviar a vida do seu paciente ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.

Artigo de capa da Revista Veja desta semana: A ética na vida e na morte, o assunto toca profundamente em um tema que já havíamos abordado em texto anterior no que se refere ao direito do paciente em partir para o outro plano, morrer ou desencarnar, como quer o entendimento de cada leitor, no seio de sua família, cercado pelos seus e o que é seu.

Oncologista há 26 anos tenho vivenciado essa dramática situação, como todo profissional da especialidade, que se dedica a acompanhar o seu paciente até o momento derradeiro. Muitos pacientes terminais me legaram suas lembranças, dolorosas, comoventes e engrandecedoras; de um profundo senso humanístico, rico acervo de conhecimentos do drama da psiquê humana frente a uma doença avassaladora lhe rouba a vida, o descontrui ao tempo que na grande maioria das vezes o transforma em um ser de luz. Uma velha vida se vai com a doença e um novo ser, alvo, rico de resignação e compreensão desponta, envergando, se o próprio paciente se permitir, o reluzente traje nupcial anunciado por Jesus.

O alívio da dor física e psicológica, a compreensão por parte da equipe de saúde e da família com aquele ser que em processo de adoecimento, tem sua vida virada de cabeça para baixo é fundamental. Desde o instante do diagnóstico do câncer, passando pelas terapias e até em alguns casos quando a doença avança célere e o paciente se torna terminal, apesar de todas às terapêuticas instituídas, é importante nos mantermos firmes no posto de terapeuta, orientador e às vezes amigo, porque não? Se muitas vezes no curso da doença o médico adentra o lar, o quarto, compartilha com a família a dor de estar perdendo o paciente, torna-se íntimo da família. Bem disse Albert Camus no diálogo entre o Médico e o Paciente, referindo- se às alvas cãs : “ Doutor, quem lhe deu esta experiência e, o Médico responde: O sofrimento”.

Felizmente há muitos casos de cura. Apesar de toda a avançada tecnologia que estamos presenciando com o despontar das novas drogas de ação molecular, a Cura vai além da resposta completa ao tratamento. A cura envolve uma complexa interação entre os aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais da condição humana, na conceituação de Fritjof Capra no livro O Ponto de Mutação. Essa conceituação nos leva a necessidade transcendermos o físico, a doença orgânica e visualizar o ser integral em processo de crescimento. São reflexões bioéticas, espirituais que enriquecem o conhecimento da dimensão humana.

O diálogo, o preparo para a nova dimensão vivenciada pelo paciente na maioria das vezes auxilia sobremaneira a difícil transição. Os conhecimentos de tanatologia e abordagens de psicologia transpessoal além outras abordagens psicoterapêuticas, bem como a religiosidade são valiosos recursos que todo profissional que lida com o paciente terminal deveria ter. Infelizmente a grande maioria dos profissionais não recebeu treinamento para lidar com a morte. O próprio curso Médico carece de disciplinas que abordem o tema. Nem o estudante de Medicina, nem o Médico são treinados para lidar com a finitude de sua própria vida. Para aprender a auxiliar o paciente, compreendê-los em seus medos, anseios e angústias é necessário terapeutizarmos nossos próprios medos e a angústia das perdas.

A difícil tarefa de decidir sobre a vida e a morte de uma pessoa é uma sentença muitas pesada para a falível capacidade humana de julgar. Esta decisão é uma das “discussões mais delicadas de bioética”, como se refere no texto da Veja o Pediatra Gabriel Oselka: “Nenhum Código de Ética Médica jamais conseguirá contemplar a complexidade envolvida nas questões sobre a vida e a morte. Cada caso encerra em si milhões de outros casos”.

È neste momento que a tarefa do Médico toca a fímbria do Divino e o profissional abaixa a cabeça humildemente, recorre ao Alto na esperança de ser ouvido, na certeza que o Senhor acolhe os fracos e os oprimidos e a luz do entendimento jorra em abundância do Alto.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Jardim de Getsêmane

..."Assentai-vos aqui enquanto eu oro. Tomou consigo a Pedro, e a Tiago e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se”.
E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até à morte: Ficai aqui e vigia.
Ter amigos para o momento derradeiro , o momento de provas e testemunho, todos desejariam ter, todos nós nos sentiríamos fortalecidos e amparados.
Quando Marcos descreve em seu evangelho esse sentimento do Divino Mestre, quando ele previa o desfecho do que se sucederia nas horas seguintes, morosas e angustiantes, sentimos n'alma a prova da sua humanidade.
Diante de momentos de grande tensão, mesmo o espírito de altíssima grau de iluminação - Jesus, mas naquele momento mergulhado na carne, sobre a influência da densidade humana, fraqueja e, apela para a presença dos amigos... Ficai aqui! Fica do meu lado e enxuga meu suor, segura a minha mão, tranquiliza-me com a tua presença.
Hoje 01 de abril de 2010, ainda lembramos de fazer essa virgília com o Divino Amigo? Imersos no mergulho denso da carne não ouvimos mais o doce murmúrio do eterno chamado: Ficai comigo, orai e vigiai. Parece muito distante. Na longínqua Galileia. Mas não é, está do nosso lado, pode não ser hoje, poderá ser amanhã ou depois daqui a alguns anos, saberemos, basta a dor chegar.
Mais adiante ele descreve: prostou-se em terra: "Abba, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice, não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres" Grande lição! De humildade e submissão ao Pai. Quantas vezes já nos deparamos com testemunhos árduos, provas difíceis e nos apressamos a orar ao Pai que nos tire aquela prova, não suportamos... A carne é fraca, nossos ombros são frágeis, mas Jesus diz: A carne é fraca, mas o espírito é forte, está pronto.
A grande maioria de nós antes de encarnar no entre vidas nos é revelado as causas de nossas quedas e dores e é permitido participar do planejamento para a sanidade de nossos males, mas esquecemos nos acovardamos, nos sentimos vencidos e sem força.
Quantas vezes tomamos as faltas dos nossos amados para nós, para sofrermos no lugar deles? Mesmo sendo inocentes aceitamos assumir as faltas dos mais próximos?Certamente que a maioria de nós responde: não!Sofrer pela outros, você está louca! Mas Ele tomou nossas faltas sobre os seus ombros e caminhou na longa e penosa estrada do calvário, para que aprendêssemos que o Amor tudo vence.
Está é a reflexão desses dias.
... Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.( João 1.4 e5)

Sombra e Luz


Sabe aquele dia que tudo parece dá errado, você se critica, empurra para uma caixa escura o lado sombrio de você mesmo, nega-se a aceitar que seja você mesmo quem fez aquilo, disse isso e ofendeu a alguém, pois é... aquele dia é apenas mais um dia em que você se deparou com o seu lado sombrio.

Carl Gustav Jung chamou de sombra os aspectos negativos que cada um de nós tem e tenta esconder. Por medo de não ser aceito e sofrer críticas do meio a pessoa esconde suas sombras, mas essas sombras são prejudiciais apenas quando nós as reprimimos, elas fazem parte do nosso todo. Elas são frutos das nossas vivências, experiências e conquistas, entende-las, descobrir suas mensagens e seus tesouros é o segredo para se tornar uno, completo.

Todos nós queremos amar e ser amados e descobrimos cedo em nossas vidas que determinadas atitudes e comportamentos são mal vistos e rechaçados pelos nossos pais e pela sociedade por isso escondemos o nosso lado fraco, negativo e obscuro.

Toda pessoa que deseja crescer espiritualmente precisa conhecer-se, trabalhar seus medos, deixar sua luz aflorar e descobrir o seu segredo e sua grandeza, para isso você precisa abrir sua caixa de sombra. Mais afinal o que é realmente isso? Se é que você ainda não entendeu.

A caixa de sombras contem todos os pensamentos que você sufocou. Todos os seus julgamentos, a sua correção, suas mágoas não-resolvidas, todas as suas convicções sombrias. Ela tem um diálogo interior negativo ( não seja gulosa, não seja mesquinha, não seja má, não seja vadia,etc, etc).Nossas histórias. Nossas muitas vidas.

Somado a esse dialogo interno ainda temos a influenciação de mente para mente, da psicosfera da terra, das esferas vizinhas que assolam os invigilantes como nos conta André Luiz no livro Os Mensageiros: Na crosta nossos irmãos menos felizes lutam pela dominação econômica, pelas paixões desordenadas, pela hegemonia de falsos princípios.

Nas zonas imediatas à mente terrestres, entre as entidades perversas e ignorantes, há cooperativas para o mal; sistemas econômicos de natureza feudalista, baixa exploração de certas forças da Natureza, vaidades tirânicas, difusão de mentiras, escravização dos que se enfraquecem pela invigilância, doloroso cativeiro dos Espíritos falidos e imprevidentes, paixões talvez mais desordenadas que as da terra, inquietações sentimentais, terríveis desequilíbrios da mente, angustiosos desvios dos sentimentos.

Para descobrir seu tesouro e sua grandeza é necessário o ideal criador, o bem ativo e renovador, a dádiva e a sacralidade do perdão. Somos humanos e divinos, dito nada menos do que pelo Mestre dos Mestres: Vós sóis deuses, vós sois a luz do mundo, resplandeça vossa luz.

Não ter medo de sua vulnerabilidade lhe faz gigante, quando você aprende a renunciar e a perder você aprende a ganhar. O medo tolhe seus passos, a coragem de ser você mesmo lhe liberta e escancara sua grandiosidade.

A sua caixa de sombra revela sua verdadeira essência.

Para saber mais sobre o assunto leia

Os mensageiros: André Luiz. Francisco Cândido Xavier.

O segredo da sombra. Debbie Ford

Memória da Psicanálise. Carl Gustav Jung – O resgate do sagrado.

( Revista Mente e Cérebro)